Imagens datadas da pré-história, como as inscrições rupestres marcadas nas cavernas, já mostravam a preocupação em se narrar histórias através de desenhos sucessivos.
Formas de manifestações artísticas como mosaicos, afrescos e tapeçarias, aproximaram-se do gênero narrativo que hoje chamamos história em quadrinhos, pois já se produziam técnicas que tornavam possíveis os registros da história por meio de uma seqüência de imagens.
Convive-se com as histórias em quadrinhos há muito tempo e, talvez por isso, não se perceba sua real importância. É possível, por meio delas, demonstrar insatisfação contra uma forma de governo, derrubar regimes, assumir posições políticas, fazer uma viagem interplanetária, vagar pelo velho-oeste, passear pela inocência do universo infantil e também dos sonhos. Com o intuito de ser compreendida inclusive por analfabetos, tem sido utilizada nas últimas décadas como excelentes manuais de instruções, em casos de procedimentos de emergência em aviões e fábricas, sendo também reconhecida sua utilidade prática.
As histórias em quadrinhos, atualmente são chamadas de “nona arte” tentando assim ganhar seu “lugar ao sol”. A partir do cinema que é considerado a sétima arte, surgiram muitas tentativas de enquadrar outras expressões artísticas neste ranking, o mais aceito até agora, a fotografia como a oitava arte, as histórias em quadrinhos como a nona arte, os videojogos como a décima e a computação gráfica como a décima primeira, estes padrões ainda não foram oficializados mas já são razoavelmente aceitos.
A primeira arte seria a Música, e respectivamente, a Dança, a Plástica bidimensional (desenho/pintura), a Plástica tridimensional (Escultura), o Teatro, a Literatura, o Cinema, a Fotografia e as Histórias em Quadrinhos.
Embora pudessem ter surgido muito antes do cinema, até hoje não são devidamente reconhecidas como forma artística. Elas são muito mais que simples desenhos, são uma fusão entre literatura e desenho, porém com modos próprios de se expressar.
As primeiras histórias em quadrinhos eram muito dependentes do texto, onde cada quadrinho, de formas bem padronizadas, era precedido de um breve enunciado.
Hoje em dia podemos ver conceitos totalmente diferentes nas histórias em quadrinhos. Algumas chegam a quase prescindir do texto, assumindo formas inusitadas e a arte utilizada nos desenhos é cada vez mais arrojada, usando as mais diversas técnicas plásticas.
Acredita-se que esta nona arte já assumiu uma linguagem própria, um modo único de representar seu objetivo, não sendo apenas um simples texto desenhado ou quadros de um filme capturados.
Muitas outras expressões artísticas são amplamente pesquisadas por historiadores, o que infelizmente não acontece com a chamada nona arte, que ainda é marginalizada e pouco pesquisada, pois ainda são vistas como um mero entretenimento infantil.
As histórias em quadrinhos são vistas de forma negativa, muitos artistas desta área ainda se sentem constrangidos ao serem denominados quadrinistas, talvez pela conotação de uma arte feita para crianças, preferem ser chamados de “ilustradores”, “artistas comerciais” ou “cartunistas”, por exemplo. Desta forma, generalizou-se uma certa “baixa-estima”, agravada pelo fato de a perspectiva histórica – que seria capaz de contradizer esta imagem negativa – ter sido obscurecida.
Sinto que uma reversão deste processo está acontecendo com o atual reconhecimento que os autores de quadrinhos tem, como o caso de Art Spiegelman, autor de Maus: relato de um sobrevivente que foi o primeiro quadrinho a ganhar o Prémio Pulitzer de jornalismo. E a adoção pelo governo de várias obras em quadrinhos para distribuição em escolas públicas, isso tudo faz com que se crie uma valorização nas histórias em quadrinhos como uma forma de construção das representações sociais.
Leia o que o editor do BLOG DOS QUADRINHOS, Paulo Ramos postou:
“Uma dica aos professores de cursos pré-vestibulares: digam aos alunos que a nova prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deve manter a tradição de usar histórias em quadrinhos nas questões.
Outra sugestão: digam aos estudantes que há chances reais de caírem na prova gêneros dos quadrinhos que transitam em veículos midiáticos de grande circulação ou acesso.
Tradução disso: as questões deverão se pautar em charges, tiras cômicas e cartuns.
Se os alunos perguntarem como você, professor, sabe disso, diga o óbvio: sua leitura se pauta nas edições anteriores do Enem e no simulado da prova, divulgado nesta semana.
O simulado tenta apresentar alguns modelos de questões para que os estudantes possam adotar como parâmetro para a prova, que será realizada nos dias 3 e 4 de outubro.
O novo Enem - que antes era realizado num dia só - vai abordar quatro campos temáticos: ciências humanas, ciências da natureza, matemática e linguagens e códigos.
Em dois testes do simulado, os organizadores da prova usaram um cartum do argentino Quino - criador da Mafalda - e uma tira de Chico Bento, de Mauricio de Sousa.”
“O exame - que é elaborado pelo governo federal - ganhou mais destaque neste ano por funcionar como substitutivo do vestibular para algumas universidades, a maioria federais.
As edições passadas da prova costumavam também trabalhar charges e tiras. A leitura de textos em outras linguagens - caso dos quadrinhos - é um dos conteúdos exigidos na prova.“
Will Eisner, um dos maiores quadrinistas do mundo criou muitas histórias em quadrinhos com temática adulta; sendo também um teórico da nona arte, criou uma expressão muito usada para designar este tipo de arte, a “arte seqüencial”:
“A configuração geral da revista de quadrinhos apresenta uma sobreposição de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e verbais. As regências da arte (por exemplo, perspectiva, simetria, pincelada) e as regências da literatura (por exemplo, gramática, enredo, sintaxe) superpõem-se mutuamente. A leitura da revista de quadrinhos é um ato de percepção estética e de esforço intelectual.”
“Em sua forma mais simples, os quadrinhos empregam uma série de imagens repetitivas e símbolos reconhecíveis. Quando são usados vezes e vezes para expressar idéias similares, tornam-se uma linguagem – uma forma literária, se quiserem. E é essa aplicação disciplinada que cria a ‘gramática’ da arte seqüencial.”
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 8.
Desta forma, torna-se válido estudar a História por meio da leitura de Histórias em Quadrinhos. Principalmente quando se tem grandioso acervo, cujas imagens esclarecem de forma brilhante o cotidiano de dada época. É assim com a História do Brasil, é assim com Angelo Agostini, grande editor, chargista, repórter visual, ilustrador e quadrinista... assunto de meu próximo post.
aguardem.
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