segunda-feira, 3 de agosto de 2009

História de Angelo Agostini


Angelo Agostini nasceu em Vercelli, no Piemonte, Itália, em 1843.
Passou a infância e a adolescência em Paris, chegando em 1859 a São Paulo em companhia da mãe, uma cantora lírica viúva, Agostini tinha 16 anos.
Desenhista nato e pintor de formação profissional, estudou na École et Arts em Paris, tendo iniciado sua carreira como desenhista na revista que ele próprio fundou com 21 anos de idade, chamada O Diabo Coxo, em 1864.



No ano de 1866, já prestava colaboração na revista O Cabrião, periódico muito conhecido naquele tempo. Nestes periódicos, ilustrou acontecimentos importantes da época,com suas famosas “reportagens visuais”, fez caricaturas e charges, que foi sua maior arma de contestação, assim como ilustrou capas e logotipos destas revistas.
(A participação política da Angelo Agostini, como na Guerra do Paraguai e no processo de Abolição da escravatura no país serão abordados por mim em outros posts)

Em 1867 fez sua primeira história ilustrada ou história em quadrinhos, onde imagem e texto conduziam a narrativa, e existia um personagem fixo.
Neste mesmo ano, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começa a ilustrar as revistas O Arlequim, A Vida Fluminense e O Mosquito. Monteiro Lobato afirmou que Angelo Agostini, ao chegar no Rio de Janeiro,


Desembarcou com uma pedra litográfica a tiracolo e muita coragem no coração. Olhou em torno e viu pouco mais que um vasto haras, onde se caldeavam raças. Havia a mucama, a mulatinha, o negro do eito, o feitor, o fazendeiro escravista, o Jornal do Commercio, dois partidos políticos, o Instituto Histórico e um neto de Marco Aurélio (D. Pedro II) pelas cumeadas a estudar o planeta Vênus por uma luneta astronônica.
LOBATO, Monteiro. “A caricatura no Brasil”. In. Idéias de Jeca Tatu. Rio de Janeiro, 1922.

Em 1876 funda a Revista Ilustrada, atuando como desenhista, editor e jornalista. Tratava-se de uma publicação semanal de oito páginas, que manteve circulação por dezenove anos, até 1895. Foi, para a época, um sucesso estrondoso, rivalizando em tiragens com os jornais diários do período, inclusive, sendo a primeira revista a ter um sistema de assinaturas com mais de 4.000 assinantes. Esta revista ou jornal satírico foi talvez o mais regular e de maior sucesso do século XIX, e representa uma das principais fontes históricas e iconográficas daquele período.

Sua primeira história com personagem fixo apareceu na Vida Fluminense, no dia trinta de janeiro de 1869, denominada As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, Nhô-Quim é um personagem nacionalista, criador de encrencas, vivendo á margem da corte, mas não à margem das elites da época. Desajustado, mete-se em confusões prosaicas, sendo um caipira rico que vai passear na corte, passa a tecer uma sucessão de críticas irreverentes aos problemas urbanos, modismos, costumes sociais e políticos da época.

No dia vinte e sete de janeiro de 1883, no número 331 de sua Revista Ilustrada, é publicada As Aventuras de Zé Caipora, que, juntamente com Nhô Quim, é considerado um dos primeiros personagens que, semanalmente aparecia em uma história inédita, característica essencial das historias em quadrinhos, ou comic strips, como são chamadas pelos norte-americanos. Zé Caipora é um azarado, o próprio nome “caipora” vem da crença dos caçadores do sertão brasileiro que retornavam sem nenhuma caça pelo fato de terem visto o Caipora do folclore caboclo.



Nas historias são narradas as desventuras de um anti-herói que viaja para o interior e acaba sendo preso por uma tribo dos Mundurucu-Açu e depois foge com uma bela índia da tribo chamada Inaiá.

No ano de 1895, continua publicando As Aventuras de Zé Caipora na revista Dom Quixote. Terminada as publicações na revista Dom Quixote, passa a trabalhar na editora O Malho, que lança no dia onze de outubro de 1905, a primeira revista de histórias em quadrinhos voltada para o público infantil, O Tico-Tico. Nesta revista, Angelo Agostini foi o responsável pela criação do logotipo, que permaneceu o mesmo até sua última publicação.



A Tico-Tico sobreviveu até 1956, trazendo em seu conteúdo criação de enorme sucesso de Luiz Sá : Réco-Réco, Bolão e Azeitona, famosos desenhistas brasileiros, como J. Carlos, Alfredo Storni e Calixto também desenharam e criaram personagens memoráveis na revista O Tico-Tico.

Nas primeiras publicações da revista, os desenhistas brasileiros copiavam os originais norte americanos em papel vegetal, coloriam e inseriam os textos traduzidos das personagens Buster Brown and Tige de Richard Outcault, rebatizados respectivamente, Chiquinho e Jagunço. Estas cópias fizeram sucesso por muito tempo no Brasil.

Desta forma, a obra de Angelo Agostini pode ser comparada como uma resenha completa do Segundo Reinado sob forma de ilustrações, pois os acontecimentos cruciais do país neste período, passam pelos desenhos dele, que eram publicados nas páginas da Vida Fluminense, d´O Mosquito, da Revista Ilustrada e de Dom Quixote.

O estudioso da caricatura Herman Lima comparou Angelo Agostini a Rugendas e Debret.

Parece desproporcional a comparação, mas examinando com atenção os desenhos de Agostini podemos ver o cenário de uma nação em formação e também as características de uma sociedade, elementos que observamos nas obras de Rugendas que também retratam a sua época.
Seu trabalho em prol da campanha abolicionista e seu engajamento na questão republicana, mostram seu interesse pelos ideais liberais, muito difundidos no Segundo Reinado. No entanto, uma grande diferença entre Agostini e os demais abolicionistas, era o domínio das técnicas de ilustração que ele tinha, levando informações a cerca de 80% de analfabetos do país que com suas ilustrações compreendiam melhor os acontecimentos políticos e sociais do país. Dessa forma ele nos mostra também, que pode-se fazer quadrinhos que tratam de temas não-infantis, como acontece muito atualmente, (mais da metade dos quadrinhos produzidos no mundo são direcionados ao público jovem e adulto).

Suas imagens tinham um teor pedagógico, com indicações caricaturais da sociedade: através do humor, ridicularizava a figura do Imperador D. Pedro II, do clero e dos políticos mais influentes. Assim como denunciava as atrocidades cometidas contra os escravos, publicadas, principalmente, pela Revista Ilustrada.
D. Pedro II era um de seus principais alvos, (o que era muito perigoso), Agostini envolvia o monarca em tramas cômicas onde era tratado com extrema irreverência, como na famosa charge onde Souza Dantas, seu conselheiro, derruba-o do trono.

Republicano e abolicionista, comemorou na Revista Ilustrada a Lei Áurea em 1888 e a Proclamação da República em 1889, passando respeitar bem mais em suas caricaturas marechal Deodoro, do que fez com o imperador então deposto.

Com a Revista Ilustrada sua audiência era quase nacional, portanto as elites do Rio de Janeiro e de todas as províncias, ansiosas com as notícias da corte procuravam este jornal, que cativou o público sedento pela crônica ilustrada dos acontecimentos correntes da capital, cujos protagonistas só a Revista permitia visualizar, e manteve para os leitores, muitas vezes distantes da corte, uma ilusão de participação da vida nacional.

Agostini foi, portanto, no Segundo Império, o maior caricaturista, desenhista de retratos e alegorias, autor de personagens heróicos e de reportagens ilustradas, articulista batalhador das causas democráticas e abolicionistas.
Estas denúncias e sátiras lhe renderam muitas críticas e hostilidades, sofrendo ameaças e pressões. Mas não parecia intimidado, como declarou no editorial do n.1 da Revista Ilustrada: “Falar a verdade, sempre a verdade, ainda que por isso, me caia algum dente”. Agostini morreu em 1910, aos 66 anos.

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